IX Festival da Mandioca promove gastronomia e ecologia em comunidade quilombola do Pará

 

Associação de Espírito Santo do Itá faz parceria com a startup Amazon Connection Carbon para consolidar a área que ocupam em polo turístico baseado em iguarias típicas herdadas dos indígenas  


Neste domingo, 28 de abril, a Comunidade Quilombola de Espírito Santo do Itá, em Santa Izabel do Pará, localizada a 50 km de Belém, será palco do IX Festival da Mandioca. Esse evento, que foi interrompido durante a pandemia, celebra este ano uma década de existência e adota um formato de carbono neutro com o propósito de promover práticas que contribuam para a redução das emissões de gases de efeito estufa e para a preservação do meio ambiente da Amazônia.


A organização do Festival está a cargo da Associação da Comunidade, que firmou parceria com a Amazon Connection Carbon (ACC). É uma startup brasileira especializada em quantificação da emissão de gases, inventários florestais sobre o estoque de carbono por áreas, controle de resíduos e compra e venda de créditos de carbono, entre os serviços ambientais.


No dia 16 de abril, a presidente da entidade, Cristina Damasceno, assinou o  documento da parceria com a executiva Milena Peper, a CEO da startup, além de dirigentes de ambas organizações. Na comunidade, vivem 50 famílias de afrodescendentes em uma área equivalente a 150 campos de futebol. A entidade quer consolidar o local como um polo turístico baseado em iguarias típicas herdadas dos indígenas.


Compensações ambientais


O termo carbono neutro diz respeito a ações que buscam reduzir as emissões de carbono onde é possível e balancear o restante  por meio de compensações ambientais. Isso pode ser feito pela compra de créditos de carbono ou recuperação de florestas em áreas degradadas.


Uma equipe de funcionários, todos uniformizados e equipados, vão estar no local do Festival medindo as emissões de carbono em todos os pontos de poluição, a exemplo de motos, carros, ônibus, churrasco e gás de cozinha. “Tudo que provoque emissão de carbono será contabilizado”, antecipou a presidente da associação.


Depois, a ACC vai fazer e encaminhar à entidade  um relatório sobre o impacto provocado pelo Festival. Serão apresentadas sugestões sobre o que a comunidade deve fazer para compensar a emissão gerada, a exemplo da recuperação de áreas degradadas próximas da comunidade e dos cursos naturais de água na região, como os igarapés. “Aí vamos avaliar o que poderemos fazer”, explicou.


O secretário de Meio Ambiente da Prefeitura de Santa Izabel do Pará, Jorge Bittencourt, elogiou a iniciativa: "Parabenizo a Comunidade Quilombola pelo empreendedorismo ambiental que preserva a cultura local, valoriza a culinária paraense, captura gás carbônico e promove a sustentabilidade com ações efetivas."


Waldemar Bruno Sousa, gerente de Projetos & Operações da ACC, reforçou a importância do viés ecológico do evento: "Tornar o Festival em um evento de carbono neutro é um passo crucial na direção de um futuro mais responsável, alinhado com os esforços globais para combater as mudanças climáticas e promover um planeta mais saudável para as gerações futura.”


Sustentabilidade e tradições locais  


O compromisso do Festival com a ecologia está alinhado ao seu objetivo de preservar a cultura dos descendentes de escravos, ressaltando a importância de proteger os recursos da natureza que sustentam as tradições culturais ao longo do tempo. Nesta edição do Festival, a comunidade também celebra a conquista do título de Patrimônio Cultural e Imaterial do Pará, uma honraria concedida pela primeira vez a uma concentração quilombola no Estado, aprovada pela Assembleia Legislativa.


Sigla Freitas, pedagoga e organizadora do Festival, destacou a evolução do evento: "Inicialmente, muitos pensavam que o Festival seria apenas uma celebração. Com o tempo, perceberam a importância de exibir sua cultura. A culinária local é excepcional; e as mulheres da comunidade, verdadeiras artesãs da cozinha, já receberam elogios de renomados chefs como Thiago Castanho e Daniela Martins."


Delícias com inovação


O Festival oferecerá pratos típicos da culinária paraense de origem indígena assimilada pela comunidade afro, como pato no tucupi, maniçoba, tacacá, além de inovações como lasanha de tucupi e escondidinho de pirarucu. Os visitantes também poderão desfrutar de coxinhas variadas e bolos de mandioca durante o evento.


Além da gastronomia e do monitoramento de poluentes, o Festival contará com apresentações de música regional, como o carimbó, um concurso de beleza para eleger a Rainha da Mandioca 2024 e jogos inspirados na cultura da mandioca, como a disputa para premiar o descascador mais rápido.


Candidatas Destacadas


Entre as nove concorrentes do concurso de beleza, destaca-se Evelyn Pimentel, 19 anos, que acumula nove títulos e é uma influenciadora digital em ascensão. Naíris Cristina Reis Martins, 24 anos, e Rayane Luiza Ferreira dos Santos, 20 anos, também são fortes candidatas, cada uma com múltiplos títulos em competições semelhantes, incluindo prêmios específicos para beleza negra.


Enfim, o Festival promete ser um evento diversificado que atrairá ainda mais turistas e celebrará o espírito empreendedor da comunidade.



* (Texto dos jornalistas Abnor Gondim e Emanuelle Cardoso)


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