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 Carlos Alberto Santana*

De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ocupa o quarto lugar entre os países que mais recebem investimentos em inovação, mas está apenas em 54.º lugar no Índice Global de Inovação (IGI) de 2022, consolidado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Quais seriam as razões desta dicotomia e como superá-la?

O Brasil ainda tem muitos problemas sócio-econômicos estruturantes a resolver e para isso conta com um povo alegre e criativo na superação de suas adversidades diárias. Nosso ambiente se mantém fértil ao surgimento de ideias inovadoras tanto pelas nossas necessidades quanto pela capacidade da nossa gente. O longo caminho que temos a percorrer é cheio de desafios, mas conta com recursos disponíveis e um gigantesco potencial de realização, o que deve ser encarado como janela de oportunidade.

Cabe ressaltar que a 54.ª posição do Brasil no IGI deste ano foi comemorada e seu desempenho considerado acima da média, com um avanço de três posições em relação a 2021, rendendo-lhe a entrada, em segundo lugar, no ranking de líderes mundiais em inovação para América Latina e Caribe, logo atrás do Chile. O resultado é bom, mas pode melhorar.

Os Estados Unidos avançaram da 7.ª para a 2.ª posição no IGI entre 2018 e 2022, resultado em grande medida atrelado à alta performance que o Vale do Silício vem desempenhando há décadas em matéria de inovação. Uma das medidas determinantes desse sucesso é a concessão de vistos especiais a estudantes com alta capacidade comprovada, política pública que vem atraindo talentos e investimentos em larga escala, mantendo o ambiente altamente inovador. Inúmeras startups surgiram ou se consolidaram no Vale do Silício americano, que hoje reúne algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo.

Em vários outros lugares, inclusive no Brasil, ideias promissoras não se materializam em grandes inovações e muitas startups acabam falindo antes mesmo, ou logo depois, de um breve sucesso. Portanto, além dos recursos financeiros, há outras variáveis que determinam o êxito. Muitas iniciativas boas são concebidas fora de contexto e acabam não sobrevivendo, sendo engolidas pelo status quo, seja por não estarem aderentes ao mercado em que se pretendem inserir, seja pelo ecossistema político.

Os investidores de sucesso precisam estar atentos ao campo em que atuam, promovendo uma integração harmônica entre um produto ou serviço inovador e todo o conjunto de atores a ser impactado, calculando os possíveis conflitos decorrentes da inovação proposta, bem como suas possíveis soluções.

Não raro, uma inovação exige adequações regulatórias e o custo das ações políticas deve ser igualmente calculado, pois sempre há uma hierarquia de preferências e de atores no processo decisório e, em geral, existe conflito de interesses na elaboração das políticas públicas, o que é intrínseco ao ambiente democrático. Produzir dados, estimular a pesquisa e o debate e avaliar os cenários externos e internos são ações fundamentais nesse processo.    

Governos e investidores têm responsabilidade determinante nessa transformação. É mister usar a tecnologia disponível para organizar a vasta quantidade de informações existentes e qualificar a tomada de decisão, desburocratizar e modernizar o ambiente de negócios. O olhar social responsável integrado ao fomento da inovação também é fundamental para garantir a sustentabilidade de uma nova ideia.

Por fim, está claro que aqui se tem todos os ingredientes para transformar o Brasil em polo de inovação e empreendedorismo, basta não perdermos de vista a importância do olhar contextualizado e cuidadoso com as peculiaridades de cada projeto, de cada região e de cada momento. Ideias plantadas no tempo e no espaço corretos, dadas todas as demais condições favoráveis que o Brasil reúne, potencializarão sobremaneira nossos resultados.

Além de recursos, os bons projetos não podem prescindir de uma análise de cenário assertiva, com adequada avaliação de impacto regulatório e as políticas públicas devem estar em sintonia entre si. Podemos melhorar nossa performance usando a tecnologia para promover maior inclusão e proporcionar melhores condições de vida e de trabalho a todos os brasileiros e brasileiras, basta mantermos uma visão política apurada, com respeito à nossa diversidade, estando sempre prontos para reconhecer e apoiar as ideias brilhantes, na hora e no lugar certos.

 

*Carlos Alberto Santana é empresário, investidor, advogado, CEO da CS Invest e sócio fundador da Tecnobank.

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