Agrofloresta produz 15 toneladas de alimentos por ano, em Santo Antônio de Goiás

A agrofloresta é um tipo de plantio que combina culturas agrícolas e arbóreas no mesmo local, gerando a produção de alimentos e a recuperação de áreas degradadas ao mesmo tempo. Ela é inspirada no processo natural de formação de matas, que reúnem diversidade de espécies trazidas pelo vento, pelas aves e outros animais, e associa a ela a produção de alimentos. A prática desenvolvida pelo pesquisador e agricultor suíço Ernst Götsch. 

No Brasil, a técnica foi colocada em prática em 1980, na Bahia, e continua mostrando bons resultados nos dias de hoje, com resultados em Goiás inclusive. Dentre as áreas declaradas ao Censo Agropecuário do IBGE de 2017, o Centro-Oeste, com 12%, é a segunda maior região do País em soma de áreas rurais ocupadas por agroflorestas. No município de Santo Antônio de Goiás, a 29 km da capital, por exemplo, o Parque Cultural Florata já conta com três ciclos de plantio agroflorestal.

Em 1,8 hectares, já é colhido em média 15 toneladas de alimentos por ano em uma área que, outrora, estava degradada, agora possui espécies de ipês, angicos, aroeiras, barrigudas, ingás, mutamba, imbaúbas, copaíba e, entre elas, árvores frutíferas como limão, laranja, mexerica, abacate, mangas, roma, caju, pitanga, acerola, amora cacau, café. Além disso, dependendo do estágio da floresta, é possível colher culturas anuais como milho, abóbora, feijão, quiabo, jiló, batata doce e inhame e hortaliças.

“Atualmente temos três ciclos de agrofloresta no local, o primeiro que foi plantado em 2017 e já é possível ver uma estrutura florestal, uma floresta jovem se formando com espécies nativas e frutíferas. O segundo ciclo que foi iniciado em 2019 está em uma fase mais inicial, onde ainda é possível colher algumas hortaliças e se admirar com o bom crescimento das plantas. O terceiro ciclo, que foi iniciado este ano, está na fase de implantação e a finalização deve ocorrer até o final deste mês de agosto”, explica Murilo de Lima Arantes, biólogo, mestre em ecologia e agroflorestor responsável pelo Parque Cultural Florata.

A Biapó Urbanismo é a responsável pela criação do Parque Cultural Florata, hoje gerido pela Elysium. Inaugurado em 2018, o espaço é aberto ao público. Com cerca de 265 mil metros, ele conta com matas, trilha ecológica, esculturas ao ar livre e a agrofloresta. 

Alimentos

Os alimentos produzidos pela agrofloresta são orgânicos, e estão em processo de certificação pela Organização Internacional Orgânica (OIA), e o excedente da produção é destinado gratuitamente para a comunidade, especialmente os moradores dos condomínios vizinhos ao parque. 

Na etapa mais recente, iniciada em agosto de 2022, foram plantadas 800 mudas de 35 espécies de árvores nativas e frutíferas em uma área de 0,4 hectares. O espaço também é ocupado por 40 espécies de hortaliças como alface, rúcula, cebolinha, entre outras. “Enquanto as árvores ainda estão pequenas, a ausência de sombra favorece as hortaliças, que serão cultivadas enquanto as árvores não crescem”, explica Murilo.

Já na etapa intermediária, iniciada em 2019, a área de 0,2 hectares recebeu 350 árvores nativas e frutíferas de 30 espécies, e também cerca de 30 espécies de hortaliças. Murilo explica que a partir de agosto, nesta etapa, as hortaliças já não serão mais plantadas, pois elas já cumpriram o seu papel naquela área.

Na etapa mais antiga, iniciada em 2017, foram plantadas 1700 árvores de 50 espécies de árvores, entre nativas e frutíferas, e a área já tomou forma de florestal. Em meio à quantidade de jatobás, ipês, angicos, aroeiras, barrigudas, ingás, mutamba, imbaúbas, copaíba, e outras presentes no desenho, é possível também colher amora, pitanga, acerola, caju, goiaba, limão, manga, primeira produção de abacate, café. “Aqui já é possível se beneficiar do potencial de produção da agrofloresta”, observa.

O biólogo ainda acrescenta que o conceito de agrofloresta é muito importante para as pessoas em geral pois fortalece a conexão entre humano e natureza e traz vários benefícios para aqueles que moram ao redor, como por exemplo, ter acesso aos alimentos saudáveis que podem ser colhidos constantemente nessas áreas.

Em prol da natureza

A produção de alimentos é apenas um dos benefícios da agrofloresta, cujo propósito inicial é recuperar toda a faixa da Área de Preservação Ambiental (APP) do Córrego Capivara, que passa pela propriedade. “A área em questão foi, no passado, destinada à pecuária e tinha somente capim, o que deixou o solo compactado e pobre em nutrientes. Então, fizemos do problema uma oportunidade”, explica Márcia Mesquita, arquiteta da Biapó Urbanismo, empresa responsável pela recuperação ambiental. A área a receber agrofloresta chegará a 50 mil metros quadrados.

O agroflorestor Murilo acrescenta que o reflorestamento por meio da agrofloresta, além de trazer o benefício da produção de alimentos, também reduz pela metade o tempo de crescimento das matas. Além disso, ela está aumentando o abastecimento do lençol freático e o volume d’água do Córrego Capivara, que passa pela propriedade. 

Além de implantar o Parque Florata com a agrofloresta, a empresa também está implantando no seu entorno o Condomínio Florata, com chácaras em sistema de residencial fechado. Para disseminar os benefícios do sistema de plantio, os proprietários de chácaras têm sido incentivados, por meio de oficinas práticas em campo, a aprender a desenvolver a agrofloresta também em seus quintais particulares.

“Esse modelo pode ser replicado também em pequenos jardins e até em uma varanda. Além do benefício dos alimentos, aprender o funcionamento de uma agrofloresta ajuda as pessoas a compreenderem como é produzido o alimento orgânico, como é o funcionamento da floresta, qual a importância de preservar as matas para a conservação da água, do solo e da biodiversidade”, sintetiza o agroflorestor.

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