Mesa-redonda do Jornal UFG discutou a EJA e como ela está inserida nos planos nacional, estadual e municipal de Educação
No Brasil, pouco mais da metade dos jovens concluem o Ensino Médio até os 19 anos. Uma opção para essa parcela da população é a Educação para Jovens e Adultos (EJA), modalidade da educação básica destinada aos jovens e adultos que não tiveram acesso ou não concluíram os estudos nos ensinos fundamental e médio.
Para discutir a EJA no Brasil e como ela está inserida nos planos nacional, estadual e municipal de Educação, a mesa-redonda desta edição convidou a gerente da Educação de Jovens e Adultos do Município de Goiânia, Márcia Melo, a professora da Faculdade de Educação da UFG, Maria Emília de Castro Rodrigues e a professora da EJA no município de Goiânia, Esmeraldina Santos.
Qual a importância da Educação de Jovens e Adultos? Qualquer pessoa pode se inscrever?
Márcia Melo – A EJA tem um significado extremamente importante para a sociedade, especialmente para aquelas pessoas que não tiveram acesso à escola ou pararam de estudar num certo momento da infância ou da adolescência. Pelos dados que temos hoje, na educação básica, ensino fundamental e médio, vemos números extremamente altos dessa população que não terminou, no caso do nosso município, o ensino fundamental. Em Goiânia, nós temos uma população em torno de 250 mil pessoas que não finalizaram o ensino básico e um suporte ainda pequeno para atender a toda essa população. Então, além da Secretaria de Educação investir nessa política, temos que fazer com que a população entenda que esse é um direito que ela tem, porque a educação não é um direito só da criança, é um direito constitucional de toda pessoa. Precisamos fazer com que a população entenda isso e volte para os bancos escolares, porque o estudo está ligado não só a questão profissional, mas também, às necessidades básicas, como ir a um banco, pagar uma conta, ler e contar. O que a Secretaria faz, hoje, é viabilizar esse atendimento com 74 escolas ofertando a EJA e entendemos que ainda é pouco e a população precisa tomar posse dessas escolas que são públicas. Quero aproveitar esse espaço para chamar a população para voltar a estudar.
Maria Emília Rodrigues – Essa modalidade está direcionada para jovens, adultos e idosos, a partir dos 15 anos de idade e que não concluíram ou não tiveram acesso à escola. São pessoas que têm esse direito e muitas vezes acham que já passou o tempo delas. Esse é um dos nossos grandes desafios, que o direito do acesso à educação seja garantido independente da idade, e o que temos percebido é que ainda há muitos jovens e adultos fora da escola, algumas vezes por desconhecimento de escolas que estão próximas e atendem a esta modalidade. Não é porque é EJA que é só noturno, tem algumas turmas que funcionam no diurno. É importante que as pessoas estejam informadas. Outras pensam que não têm a documentação para chegar à escola. Hoje a Lei de Diretrizes e Bases da Educação garante que essas pessoas possam fazer um exame de classificação e serem matriculadas na escola, dando continuidade aos seus estudos. Isso é um elemento muito importante.
Esmeraldina Santos – Essa questão do direito precisa ser garantida. Nós temos diversos horários e disponibilidade de espaços para atender a EJA. O nosso desafio é localizar esse público. Tenho aluno de 15 anos e aluno de 70 anos, por exemplo. A EJA é para qualquer aluno a partir dos 15 anos que queira voltar a estudar. Nós temos diversas formas de atendimento para a educação de jovens e adultos na rede.
De que forma a EJA está inserida nos planos nacional, estadual e municipal de Educação?
Maria Emília Rodrigues – O plano municipal, estadual e federal de educação aborda nas metas de oito a doze elementos da EJA, tratando da educação básica, da alfabetização, do ensino médio e da educação profissional. São metas que contemplam estratégias direcionadas para a EJA e que tentam garantir esse direito com financiamento, formação de professores e chamadas públicas. O aluno da EJA é diferente da educação infantil em que os pais vão e buscam na escola, esse aluno tem que ser convencido do direito que ele tem, porque acha que já passou o tempo dele. Mas isso não é verdade, você pode voltar a estudar em qualquer época, independente da sua idade. Esse processo é importante, e os planos têm garantido isso tentando articular não só a entrada desse aluno no processo de educação, mas, também, garantir que o atendimento à essas pessoas seja de qualidade, com formação continuada dos profissionais que atuam nessa modalidade e material didático específico. Os professores precisam desenvolver um currículo adequado porque, muitas vezes, o aluno procura a escola e, se a forma como o conhecimento está sendo trabalhando não lhe atinge, ele não permanece na escola. Então, o currículo precisa garantir essa permanência e as secretarias precisam buscar esse educando. É importante que tenhamos esse olhar e que haja um compromisso do poder público na sua totalidade.
Esmeraldina Santos
"Os alunos que saem da EJA ressaltam a importância disso na vida deles, há uma mudança até na forma de lidar com as relações familiares ou de trabalho. Então, realmente, é uma mudança. Eu digo que é uma liberdade: nós nos libertamos por meio do conhecimento."
Jacqueline Vieira – Temos uma legislação ambiental para garantir a sustentabilidade. Hoje, o que o Estado precisa realmente fazer é desburocratizar as ações e torná-las mais disponíveis. Todas as nossas ações de licenciamento têm a questão da sustentabilidade por trás, porque vamos licenciar os empreendimentos de acordo com uma normativa que existe e que já prevê até onde o impacto pode ir sem causar grandes danos no meio ambiente onde ele está inserido. O que temos feito, tanto na gestão anterior, como já no início dessa nova gestão, é simplificar os processos. Outro ponto que não podemos esquecer é a gestão da fauna e da flora. Como estamos fazendo isto para garantir os ativos ambientais?Porque não é possível haver produção e desenvolvimento se não tivermos ativos ambientais. É necessário que a parte de licenciamento e fiscalização seja combinada com a gestão de fauna e flora, garantindo as nossas unidades de conservação, para que realmente façamos uma análise de como está a sustentabilidade. Como medimos a sustentabilidade? Nos ativos ambientais que existem dentro do nosso o bioma.
Esmeraldina Santos – Temos vagas. Talvez o que tenhamos de observar é se as vagas estão nos lugares certos. Nas periferias, encontramos as escolas lotadas, por exemplo. Em determinadas regiões falta atendimento porque não há demanda suficiente para atender o ensino estruturado. Nesses espaços, precisamos criar uma organização alternativa para atender as pequenas demandas, onde não é possível criar turmas estruturadas.
Márcia Melo
"...temos que fazer com que a população entenda que esse é um direito que ela tem, porque a educação não é um direito só da criança, é um direito constitucional de toda pessoa."
Entre os principais desafios da educação de jovens e adultos não está só o acesso, mas, também, a permanência. Quais são as estratégias para manter esse aluno frequentando a escola?
Márcia Melo – O grande desafio da educação de jovens e adultos é a permanência, porque estar na escola não é só o desejo de voltar a estudar, mas envolve uma série de questões que fazem com que ele saia da escola, entre elas, a questão da sobrevivência dele e da família porque, muitas vezes, ele entra na escola por causa do trabalho, mas tem que sair por causa desse trabalho que o pressiona para ficar mais tempo. Esse é um elemento que vivenciamos o tempo todo na escola. A outra questão são os trabalhos temporários, como a Festa do Divino Pai Eterno e a Pecuária, que fazem os alunos saírem da escola e irem trabalhar, voltando um mês depois. Então, não depende só do querer dele, mas de uma série de fatores que dificultam a permanência desse aluno. O grande desafio do poder público é saber como fazer para que no retorno do aluno que foi a vida toda excluído, consiga convencê-lo a permanecer de fato. É um desafio saber que estrutura poderíamos criar dentro das nossas redes para que esse aluno seja absorvido ali e permaneça.
Há programas que oferecem a modalidade à distância? Os cursos à distância conseguem oferecer a mesma qualidade dos presenciais?
Maria Emília Rodrigues– Há pouca oferta. Mesmo quando existia a modalidade de telecursos, ainda assim, havia as classes presenciais. Até porque, esse aluno é um aluno que já apresentou certa dificuldade no processo de aprendizagem e, ao fazer isso sozinho, ele encontra muito mais dificuldade. Mas nós temos oferta de educação à distância para formação de professores de educação de jovens e adultos. Outro elemento que é importante que agreguemos é que esse sujeito, mesmo que ele não tenha acesso a uma escola próxima, há formas de atendimento diferenciadas da EJA. No caso da rede municipal de Goiânia, por exemplo, para fazer esse atendimento eles não têm esperado que o aluno procure a escola, mas têm ido até o aluno. Por exemplo, as extensões, que são turmas que funcionam vinculadas a uma escola em espaços não escolares como, por exemplo, no Hospital das Clínicas da UFG, na Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), em horários alternativos em associações de idosos. São espaços em que as pessoas não iriam para a escola, mas ali se reúnem e constituem uma turma com esse atendimento. Há várias formas de organização alternativa para o atendimento. Outro elemento importante é que nesse processo, a chamada desse sujeito compete ao poder público e precisa ser de diversas formas. Houve momentos em que a universidade acompanhou esse processo de parceria, por exemplo, em uma articulação para identificar onde estão esses jovens e adultos. Nós temos mais de 33 mil analfabetos em Goiânia, mas onde eles estão? Precisamos identificar qual é a região onde eles se encontram, para abrir turmas nesses espaços que sejam adequados. O primeiro movimento precisa ser o do diagnóstico, em seguida, nós precisamos realmente que ocorra a divulgação. Um dos espaços que criamos com este objetivo é o site do Fórum Goiano de EJA (www.forumeja.org.br/go), no qual divulgamos o nome das escolas do EJA nos municípios goianos para que as pessoas possam ter acesso às informações.
Maria Emília de Castro
"Nós temos mais de 33 mil analfabetos em Goiânia, mas onde eles estão? Precisamos identificar qual é a região onde eles se encontram, para abrir turmas nesses espaços que sejam adequados. O primeiro movimento precisa ser o do diagnóstico."
Como é a inserção dos alunos que se formam na EJA, no ensino superior e no mercado de trabalho? O acesso à educação pode alterar a realidade desses sujeitos?
Esmeraldina Santos – Não só a entrada no ensino superior, mas a própria conclusão da educação básica é extremamente importante para eles. Quando você conversa com algum desses alunos sobre qual o significado do conhecimento escolar na vida deles, percebe a sua importância. Eu, por exemplo, trabalho na Comurg e tenho três alunos que fazem o ensino superior e saíram das salas de aula da Comurg. Então, posso ver a satisfação e como o conhecimento escolar é importante. Sabemos que ele, por si só, não garante o mercado de trabalho, mas também sabemos que sem ele é muito difícil. Os alunos que saem da EJA ressaltam a importância disso na vida deles, há uma mudança até na forma de lidar com as relações familiares ou de trabalho. Então, realmente, é uma mudança. Eu digo que é uma liberdade: nós nos libertamos por meio do conhecimento. Vejo depoimentos maravilhosos, mesmo daqueles alunos que completam só o ensino fundamental, em relação ao que aquilo significou para suas vidas. Entendo que o conhecimento escolar é muito importante, assim como a formação superior. Esse conhecimento pode não garantir, mas abre caminhos para que essas pessoas melhorem a vida e as perspectivas de trabalho.
Márcia Melo – Gostaria de aproveitar para ressaltar que as nossas escolas estão abertas, que as pessoas não precisam esperar o início do ano letivo, que as matrículas podem ser feitas a qualquer momento do ano e que há vagas. Além disso, a frequência na EJA é flexível. Se o aluno é guarda-noturno, por exemplo, pode continuar trabalhando e ir à escola nos dias em que não trabalha. Nós pensamos a escola hoje, também, para atender as necessidades do aluno trabalhador. Por isso convidamos toda a população, os filhos, os netos, os sobrinhos, a chamarem os seus pais, avós, tios para voltarem a estudar e ter a possibilidade de uma vida muito mais emancipada.