A parceria em busca da troca de experiências no setor, deve favorecer, principalmente, os pequenos e médios produtores rurais daqui
De um lado, Coreia do Sul, um país com área de 62 mil hectares de cultivo protegido, com predominância para as plantações de hortaliças. Do outro, o Brasil, com 20 mil a 25 mil hectares nos mesmos moldes e dimensões territoriais bem superiores. Foi isto que uniu as duas nações em busca da troca de experiências no setor, que deve favorecer, principalmente, os pequenos e médios produtores rurais daqui.
Por causa do clima, muitas vezes bem frio, os agricultores sul-coreanos utilizam o cultivo protegido, que consiste em instalar nas plantações estufas totalmente cobertas por plástico polietileno, construídas a partir dos cálculos feitos pelo software GH Modeler.
“Em sua maioria, os cultivos protegidos empregam o uso de plástico tipo polietileno que, no caso das hortaliças, protege das intempéries climáticas. O cultivo protegido praticado no Brasil pelos pequenos produtores utiliza-se basicamente de plásticos e suas variações, com a finalidade de proteger as culturas das mudanças de clima. Não é somente o solo que fica protegido, mas especialmente as próprias plantas”, explica o pesquisador Marcos Brandão Braga, da Embrapa Hortaliças (DF).
“Poderia ser usado o vidro, mas é um produto muito caro e de difícil manutenção, pois pode quebrar e não ter onde comprar para reposição. O polietileno é mais resistente ao excesso de sol e ao vento, que muitas vezes rasga o plástico comum”, ressalta.
Braga destaca ainda que o polietileno é mais usado devido ao seu custo menor e por ter propriedades físico-químicas adequadas ao desenvolvimento da maioria das culturas de hortaliças.
O acordo entre os dois países, com vigência estimada para até 2016, foi conduzido pelo pesquisador da Embrapa Hortaliças Ítalo Guedes, responsável pela cooperação técnica com a equipe do pesquisador Ryu Hee-Reyong, engenheiro de estruturas do Instituto de Pesquisa em Horticultura Protegida do Rural Development Administration (RDA), que atua na pesquisa agropecuária da Coreia do Sul.
Segundo Braga, poucas são as áreas de hortaliças no Brasil que já empregam o cultivo protegido. “Temos casos de sucesso em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal, mas queremos expandir a experiência por todo o País, cujo clima é bem mais diversificado que o do território sul-coreano.”
Ressalta ainda que a parceria com a Coreia do Sul iniciou em 2014, graças aos laboratórios (Labex) que a Embrapa mantém em diversos países.
CONSUMO
De acordo com o pesquisador, o consumo de hortaliças no Brasil gira em torno de 15 quilos por pessoa por ano, enquanto na Coreia do Sul é de 200 quilos. “Ao longo dos últimos 30 anos, o sul-coreanos foram mudando seus hábitos alimentares, passando a comer produtos considerados mais saudáveis. Além das hortaliças, passaram a consumir mais peixe e carne de frango”, destaca.
Ele salienta que a Embrapa Hortaliças quer trazer a experiência do cultivo protegido para este mercado nacional, a exemplo dos floricultores brasileiros, que já utilizam o mesmo sistema por aqui. “Muitos produtores de flores do País, que exportam seus produtos, já usam este método, a exemplo dos cultivadores do município de Holambra (SP)”, exemplifica.
Também comenta que, ao contrário da Coreia do Sul, a exportação de hortaliças do Brasil é muito pequena. “Exportamos apenas melão e é muito pouco se comparado a outros países.”
De olho no mercado interno e externo, Braga destaca que o cultivo protegido permitirá que os produtores de hortaliças ofereçam seus produtos com melhor qualidade, especialmente em tempos de baixa oferta, conseguindo maiores vantagens econômicas.
Ele destaca que o tomate e o pimentão, muito consumidos, mas pouco produzidos na região amazônica, por exemplo, têm alto valor agregado para o produtor, mas costuma chegar muito caro aos consumidores destes Estados.
O SOFTWARE
Para esclarecer como funciona o software desenvolvido pelos sul-coreanos, o pesquisador da Embrapa explica que o GH Modeler calcula todas as dimensões da estufa, levando em conta principalmente os dados climatológicos de cada região.
“Temos casos de produtores brasileiros de hortaliças que compraram várias estufas no comércio comum, sem sucesso. Isto porque o que serve para São Paulo, por exemplo, não serve para Goiás. Por isto, muitos perderam seus investimentos, pois as estruturas adquiridas não levaram em conta a altura do pé direito, o material utilizado e, principalmente, o clima. Se o produtor comprou errado, a culpa não é da tecnologia”, alerta.
Apesar de suas vantagens, por questões internas o software GH Modeler não será comercializado diretamente aos produtores rurais do País. “O que vamos fazer é orientar os agricultores sobre os modelos de estufas adaptados e recomendados para sua região, de forma que eles não façam compras erradas deste tipo de estrutura”, informa Braga.
Destaca também que o acesso a estas informações deve demorar entre quatro e cinco anos. “Fomos pegos pela crise econômica bem no início do projeto (em 2014). Nossos modelos de estufas já foram rodados pelo software, mas precisamos de verbas para construí-los e testá-los por aqui. Diferentemente do Brasil, na Coreia do Sul há incentivos da iniciativa privada. Infelizmente, nós não temos a mesma capacidade de investimentos em comparação àquele país.”
ESTUFA
Segundo a Embrapa Hortaliças, o GH Modeler é capaz de avaliar parâmetros e analisar o desempenho da produção estrutural das estufas, em diferentes condições de estresses ambientais, de acordo com as definições estabelecidas pelo próprio agricultor ou técnico que irá auxiliá-lo. São levadas em consideração a densidade e a composição do plástico usado, além da configuração das suas estruturas, que interferem no desempenho das plantas cultivadas, daí a necessidade do planejamento.
Em território nacional, ainda conforme a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, é utilizado basicamente o polietileno de baixa densidade em quase todo o País; enquanto na Coreia do Sul a definição do tipo de plástico é baseada em estudos de incidência de luz solar, levando em conta cada uma das regiões produtoras.
ECONOMIA DE ENERGIA
Outro objetivo desta cooperação entre Brasil e Coreia do Sul é promover a utilização de técnicas de baixo gasto de energia elétrica, para o controle da temperatura nas estruturas de cultivo protegido em território nacional. A Embrapa detalha que as medidas a serem adotadas são bem simples, como aumentar a altura do topo da construção (pé direito ou cumeeira), que pode diminuir a temperatura interna das estufas, considerando que o ar quente se desloca para cima e não fica próximo às culturas.
Os pesquisadores concluíram que, em regiões mais quentes, as estruturas devem ter saídas de ar e, pelo menos, quatro metros de altura, em vez da medida convencional de dois metros e meio a três metros de altura. Ar-condicionado, por exemplo, não é uma boa opção porque, além de encarecer o custo de produção, por causa do gasto de energia, também seria mais prejudicial ao meio ambiente.
De acordo com a Embrapa Hortaliças, em todo o planeta, a adoção do cultivo protegido cresceu 400% nos últimos 20 anos, passando de 700 mil para 3,7 milhões hectares de áreas plantadas. Isto mostra que o método tem potencial para dobrar a produtividade alcançada em campo aberto, despontando como uma tecnologia capaz de conciliar produtividade e qualidade, considerando as intempéries ou o clima típico de cada região.